ariana [sem juana]
sigo inspirada por sebastiana
[s
mas escorrego escorpião em água funda
coração pique mangue
da lama à lama e pouca iluminação
coração pique mangue
meto a mão
mas é loteria:
lama fértil ou lâmina
de caranguejo
mangueando em furto em pedido esmolando ou afundando memo
mangueio
roubando a vida que nos é roubada
vivendo
a milhão a milhão a milhão
por aqui nada caminha devagar
25 e já to a milhão y a porrada vem muito mais forte do que eu aguento
na mente (sem silêncio) nos braços perna canela y pulmão

sem silêncio:
eu pouco tenho eu não ganho eu ainda não roubei.

viva

se eu estivesse viva
eu te chamaria pra fazer qualquer coisa
nessa lua escorpiana.
descobriria seu gosto
e como você respira comigo perto

se viva eu estivesse
se eu já me pertencesse
cabeça-coração-pulmão

descobriria como respiro sob seu cheiro
e como gosto de passar a língua na sua

se eu estivesse viva.
morrer é metade do caminho
nesse viver cíclico-mulher
morrer é o único caminho de limpeza nesse patriarcado.

quem sabe renasço lua nova.

[de uns meses atrás]

1

beijo suas costas
colchão de solteiro boa noite meu amor
se vira
me beija e me beija e sua buceta molhada confirma minha mão
é linda. é linda é linda
goza gostoso em mim
“eu te amo”.

são minhas pernas que formigam. dorme quente e úmida no meu peito. eu não durmo.

mas se tem uma coisa que faço bem desde sempre é amar.

-a mulher está domesticada-

amar sempre foi uma coisa que me coube
amar com o corpo todo, cuidar, acarinhar, me doar
eu aprendi um amor antimulher muito eficaz
um amor que dá razão à vida da mulher, mas que nesse caminho mina sua possibilidade de vida.

-a mulher está ilhada em si mesma-

nadar contra a maré quando você é a ilha. nadar contra a maré quando você é o mar. nadar contra a maré quando você é a maré.

-a mulher está cimentada-

deixar de amar é devir
é sobreviver
respirar ar puro quando se é toda pulmão — se vive disso ou se mata, na mesma proporção.

eu tenho 25 anos e sei amar.
eu não sei ser livre por muito tempo
eu não aprendi a zanzar

-a mulher está viva em algum lugar de dentro, histérica-

dessas densas nuvens quero tempestade chuva de morte pro rebrotar. Volta até aquela página que diz quem você é só — cabeça-pulmão-ombros-joelhos y coração. carrega esse corpo leve e vê se se alimenta. busca olhar de paixão. busca essa raíz-você. busca esse autoamor tão difícil, tão devir. não se deixa cair mais nesse pensamento mato que você é menos. olha as árvores em volta e vê a árvore que vem crescendo-você. sopra com força pensamento ruim. escreve o que não dá pra engolir. desenha ao invés de afogar. e se a mão tremer, borda, que é pra firmar.
vai ficar tudo bem.

não quero [só] amar. não quero viver de amor.
pisano sussurra no meu ouvido que feminilidade é domesticação. e eu concordo e eu concordo e eu concordo.
amor romântico não é frase leve. leia de novo: amor romântico. é doença é doença. é amargo de tão doce. faz mal. me mata aos pouquinhos. come minha leveza. come minha espontaneidade. come meu frescor.

e faz tempo que eu sei disso. mesmo quando não sabia, mesmo quando sofria esperando que a resolução fosse um relacionamento perfeito que iria aparecer no horizonte em algum momento: sabia que me enganava. sabia que desse mal nada de bom sai. não sai.

ontem boba falei pra ela “mas há meses que eu tento” [desde que estou com ela] e ela, sábia que é, me diz “em meses a gente engatinha”.

não quero viver de amor. não quero pensar em amor. odeio amor. porque é exatamente sobre isso que se trata o amor romântico. ódio, rancor, ciúme, medo. insegurança insegurança insegurança. e muitas vezes em mim vem como desespero-buraco-na-barriga.

às vezes esqueço que amar é bom. e sepá eu devia esquecer mesmo. pensar só em autoamor. só em me autoamar. cuidar de mim e do meu corpinho e dessa cabeça que tem dias que não adianta não funciona e não produz porque não dá.

a feminilidade é domesticação. a cabeça da mulher está doente. o corpo da mulher tem que aprender a amar no plural. em eu-elas. e não amar casal. não amar romântico porque isso adoece.

a cabeça-corpo-coração-pulmão mulher tem que aprender a amar amiga.

______________

sepá a cura está aí. o amar-amiga pode trazer sexualidade, pode trazer paixão. mas não traz carga pesada que é romance.

desaprender.
amar aS mulhereS
despatriarcalizar.

reia romana
deusa da vida-morte-vida,
como montanha que é
subo
e me sinto preenchida de espaço.

às vezes tua balança me tonteia,
mas já sei que não almeja arrancar meus chifres.
Sabe admirar força porque é forte.

E se há alguma coisa que gosto especialmente em você, na gente
É essa janela de Safo que aprendi a manter aberta
Agora e para sempre.

Enfim respirando
imersa em lama profunda e fértil
me faço capaz de te dar todo carinho vivo, enquanto vivo ele estiver.