mas se tem uma coisa que faço bem desde sempre é amar.

-a mulher está domesticada-

amar sempre foi uma coisa que me coube
amar com o corpo todo, cuidar, acarinhar, me doar
eu aprendi um amor antimulher muito eficaz
um amor que dá razão à vida da mulher, mas que nesse caminho mina sua possibilidade de vida.

-a mulher está ilhada em si mesma-

nadar contra a maré quando você é a ilha. nadar contra a maré quando você é o mar. nadar contra a maré quando você é a maré.

-a mulher está cimentada-

deixar de amar é devir
é sobreviver
respirar ar puro quando se é toda pulmão — se vive disso ou se mata, na mesma proporção.

eu tenho 25 anos e sei amar.
eu não sei ser livre por muito tempo
eu não aprendi a zanzar

-a mulher está viva em algum lugar de dentro, histérica-

Margarita Pisano “O Triunfo da Masculinidade” – Tradução

Tradução de “O Triunfo da Masculinidade”, da chilena, lésbica e feminista radical Margarita Pisano.

https://pt.scribd.com/document/341673780/Margarita-Pisano-O-Triunfo-Da-Masculinidade-Traducao-Completa

Tradução coletiva feita pelo grupo Estudos no Brejo, que acontece semanalmente no Brejo das Flores. São Paulo, $P. 2017. É livre e incentivada sua divulgação, impressão e difusão. Viva as sapatão resistência!

hipnotizada pela jenny.
sentada no colchão de casal.
só.
warpaint e eu.
e a fonte da miucha no canto da porta, soando.
e o ressoar das falas sobre lilith.
e o balançar na balança do ccj no corpo.
escutar com os poros.

[10.10.15]

dessas densas nuvens quero tempestade chuva de morte pro rebrotar. Volta até aquela página que diz quem você é só — cabeça-pulmão-ombros-joelhos y coração. carrega esse corpo leve e vê se se alimenta. busca olhar de paixão. busca essa raíz-você. busca esse autoamor tão difícil, tão devir. não se deixa cair mais nesse pensamento mato que você é menos. olha as árvores em volta e vê a árvore que vem crescendo-você. sopra com força pensamento ruim. escreve o que não dá pra engolir. desenha ao invés de afogar. e se a mão tremer, borda, que é pra firmar.
vai ficar tudo bem.

não quero [só] amar. não quero viver de amor.
pisano sussurra no meu ouvido que feminilidade é domesticação. e eu concordo e eu concordo e eu concordo.
amor romântico não é frase leve. leia de novo: amor romântico. é doença é doença. é amargo de tão doce. faz mal. me mata aos pouquinhos. come minha leveza. come minha espontaneidade. come meu frescor.

e faz tempo que eu sei disso. mesmo quando não sabia, mesmo quando sofria esperando que a resolução fosse um relacionamento perfeito que iria aparecer no horizonte em algum momento: sabia que me enganava. sabia que desse mal nada de bom sai. não sai.

ontem boba falei pra ela “mas há meses que eu tento” [desde que estou com ela] e ela, sábia que é, me diz “em meses a gente engatinha”.

não quero viver de amor. não quero pensar em amor. odeio amor. porque é exatamente sobre isso que se trata o amor romântico. ódio, rancor, ciúme, medo. insegurança insegurança insegurança. e muitas vezes em mim vem como desespero-buraco-na-barriga.

às vezes esqueço que amar é bom. e sepá eu devia esquecer mesmo. pensar só em autoamor. só em me autoamar. cuidar de mim e do meu corpinho e dessa cabeça que tem dias que não adianta não funciona e não produz porque não dá.

a feminilidade é domesticação. a cabeça da mulher está doente. o corpo da mulher tem que aprender a amar no plural. em eu-elas. e não amar casal. não amar romântico porque isso adoece.

a cabeça-corpo-coração-pulmão mulher tem que aprender a amar amiga.

______________

sepá a cura está aí. o amar-amiga pode trazer sexualidade, pode trazer paixão. mas não traz carga pesada que é romance.

desaprender.
amar aS mulhereS
despatriarcalizar.

gênero é construção SOCIAL

quase cinco anos atrás eu compartilhei no FB esse bordado. eu tinha 19 anos e meu feminismo estava se estabelecendo e se refinando, pra nunca mais sair das minhas miradas.
todas concordamos com o bordado? “gênero é uma construção social”, diz a foto. SOCIAL. não biológica. não tem essa de nascer no corpo errado: tudo o que a gente entende por “corpo certo”, “corpo errado” foi construído socialmente.

rosa vs azul tá ultrapassado pra você? então pense em maquiagem vs natural. cabelo comprido vs cabelo curto. peluda vs pelada. pense o que quiser.
não existe “nascer mulher”, nem no “corpo certo”, nem no “corpo errado”.
Gênero é construção social.

“mulher que nasceu mulher” é aquela que sofreu opressão misógina desde a barriga da mãe e que nunca optou por isso — e nunca se “identificará” com isso.
“mulher que se identifica como mulher” é aquela que num dado momento da vida (umas antes, outras depois) percebeu que não se adequava aos padrões masculinos de gênero e achou que a resposta estaria no outro polo. Tipo aquilo que cês chamam de binarismo, sabe?

Então: OU é homem OU é mulher (mesmo que as genitais estejam trocadas certo?). Binarismo também porque se a mina gosta de mina e não gosta de feminilidade ela é automaticamente jogada pro outro polo: deve ser um homem.

loco pensar que a ideologia de gênero mais atual (moderna, fascinante, revolucionária) esteja reproduzindo padrões tão heterossexuais, não? Sim, porque se um casal de lésbicas está se tornando um casal (muitas vezes autointitulado) “hétero” tem algo errado, né? (mulher amando mulher? onde já se viu?!) Uma bicha afeminada não pode mais ser o que é: tem que ser mulher (bicha afeminada é destruição demais pra essa sociedade).

Sério que não soa como cura gay pra vocês?

Crianças que não se adequam aos padrões de gênero (lembra do termo? criança viada?) estão sendo curadas!

enquanto isso eu só fico pensando:
gênero é criação do patriarcado. gênero é hierarquia. homem sobre mulher. o patriarcado sempre vai se reinventar pra gente reproduzir a velha ladainha. gênero é construção social. SOCIAL. e a socialização nunca falha.