Nanãna. Sempre que eu vejo minha mãe e suas duas irmãs minhas tias pensamos e falamos dela, mesmo que pouco, mesmo que por um instante. Não conheci minha avó e tudo que sei dela é porque me contam histórias sobre sua vida. Sempre fui apaixonada por essa mulher e quando era bruxinha pequena e acreditava em reencarnação, gostava de pensar que eu era ela e ela era eu. nunca contei isso pra ninguém. Esses dias conversando com cibelinha pensava sobre biologia e minha brisa era de que todas as partes do meu corpo, todas as minhas mitocôndrias belezinhas e resistentes, queriam seguir essa linhagem. Não é desmerecendo não, é que nascer com útero é muita coisa. Mesmo que do meu nunca saia uma criança — e não vai sair. Mesmo as que não tem útero, ou que por algum motivo tenha deixado de ter {nanãna tirou o útero com 42 anos por causa de um fibroma}. São ciclos que se impõem, é sangrar sem ferida. Já pensou morrer todo mês? A melhor parte é renascer.
Amanhã minha avó faria 91 anos.
Tag: menstruação
Regar as ervas
com o sangue do coletor menstrual
Arruda
Alecrim
Hortelã.
Fazer chá de canela e alecrim para a cólica.
Manter calor
Tomar Sol.
Comer cru antes e durante minha Lua.
Olhar a Lua
(o ciclo inteiro)
Regar o caderno com palavras de sangue.
{renasço a cada morte do meu útero-sangue-ciclo}
Da série sobre menstruação: Copinho
Tenho uma relação muito legal com meu copinho.
Uso o coletor menstrual a mais ou menos um ano e meio.
Tudo o que acontece durante a menstruação mudou (pra melhor, diga-se de passagem) desde que eu o uso. Menstruar nunca mais foi um problema pra mim.
Sou muito avoada então era frequente eu estar na rua/trabalho/escola desesperada atrás de um absorvente. Ou então me esquecer de pegar mais e passar metade do dia na rua, totalmente desconfortável, achando que a qualquer momento o meu absorvente ia vazar e sujar minhas roupas.
Minha vida toda usei absorvente externo e no calor era um suplício. Cheguei a ficar com a virilha bastante assada (bem na parte das dobras das coxas) por conta do atrito com o papel/cola.
E bom, por conta do meu descuido em trocar mais vezes por dia, as minhas roupas realmente chegaram a sujar “visivelmente” (entre aspas porque foi pouco, mas visível).
Quase todas as minha amigas do período da escola eram meio pilhadas com o fato de o absorvente poder vazar e as sujar (eu disse quase?).
Desde que eu tenho o copinho minha relação com o sangue, com minha vagina, com minhas roupas, meu calor e etc. mudaram.
Hoje eu lido com meu sangue. Sei quando está muito coagulado ou muito liso. Sei sua cor e principalmente: sei sua quantidade.
Digo ‘principalmente’ porque não temos como ter uma dimensão certa da quantidade em absorventes de papel/algodão. Porque ele absorve e espalha. Temos a sensação de sempre ter muito sangue lá.
Eu sempre me masturbei, mas minha relação com minha vagina também mudou depois que eu passei a usar coletor.
É preciso colocá-lo e tirá-lo do jeito certo, tem o lance do vácuo e dele estar todo desdobrado pra encaixar. A gente tem que dobrar ele pra colocar e tem que ser uma dobra confortável.
Descobri principalmente a força da musculatura da minha vagina. Consigo empurrá-lo facilmente quando quero tirá-lo, até um ponto que facilita puxar ele.
Não tenho mais neura de vazar e sujar toda a minha roupa, por mais que já tenha vazado um pouquinho numas vezes que eu coloquei errado, e é aí que entra a parte mais bonita da história: eu menstruo, sabe? Todo mês. E, por mais que tentem pela publicidade transformar num líquido azul sobre um absorvente brilhante, o que eu menstruo é sangue. Ele não é sujo nem nojento. Ele é natural e vai me acompanhar durante toda minha vida fértil.
Eu ando adorando minha menstruação, aprendendo muito sobre mim e sobre ler meu corpo e esse texto faz parte da minha tentativa de falar sobre nossas coisas não-ditas.
Espero que inspire