é que quando eu menstruo a vida fica furiosa. não quero produzir nada, desde uma lua antes não quero produzir nada. a preocupação está no por que raios eu não cortei a unha do pé antes? reclamo um monte porque quando eu menstruo a vida fica furiosa e viver do jeito que vivemos não dá. tá errado. não quero produzir nada. a cidade me engole numa dentada e eu me debato, até trucidar, mas não curvo.
eu queria ver a gente comendo o que plantou, em volta a cidade dominada por mata.
eu queria ver a gente comendo o que plantou com o pé na água.
(…)
o peito apertado embala o medo do futuro. ao mesmo tempo há a alegre rebeldia de quem carrega a história nas mãos.
[eu odeio redes sociais e a vida está furiosa dentro de mim]

cama

arrumo toda a cama pra mim mesma. coloco lençol, abro a coberta, ajeito os travesseiros. arrumo toda a cama pra dormir comigo, toda noite, faz uns meses. inventei que era um ato de amor próprio e autocarinho. lo que extrañas ya no existe. saudade de tanto que não toca mais as mãos. distante. hoje toquei bateria e fazia muito tempo que não tocava. tá frio e eu tô triste e chapada. eu não sei mais o que existe. cansada y de plástico. eu não sei mais quem sou eu. arrumo a cama antes de dormir. durante o dia os gatos dormem na cama, eu corto tecido na cama, almoço enquanto vejo desenho, tudo na cama. a noite durmo limpinha comigo.