“Álcool, drogas y financiamento da luta”, por La Vaga que Volem

Traduzi este comunicado do coletivo anarquista La Vaga que Volem, de Barcelona, sobre sua posição em relação à venda de bebidas alcoólicas para levantar fundos que ajudariam companheiras presas e reprimidas depois de uma greve geral que aconteceu em 29 de março de 2012, (em espanhol aqui: https://vozcomoarma.noblogs.org/?p=10199).

“Através desse escrito fazemos pública a decisão que tomamos sobre como queremos afrontar o processo repressivo que se iniciou em 2012 contra um companheiro que participou da grave geral de 29 de março desse ano. Gostaríamos que esse texto e os que irão se juntando a medida que se desenvolva a campanha, sirvam de base para a abertura de um debate coletivo sobre a forma que estamos afrontando a onda repressiva contra as pessoas que, em um contexto de conflito social, participam ativamente da luta. Como reprimidas que somos, sustentamos que a única forma de fazer frente ao Estado na luta anti-repressiva é apresentar o conteúdo político das ações em que somos reprimidas e dar a elas uma dimensão coletiva.

Em resumo, este documento se concentra no financiamento da luta através da venda de álcool em festas organizadas para cobrir gastos gerados por processos judiciais. Sem dúvida o álcool e a festa vendem, cumprem esse requisito e essa função. Parece então que não podemos falar de ética libertária e da idoneidade desses meios, não só como ferramentas, mas como verdadeira prática revolucionária. Parece que não podemos questionar as festas e o álcool sem passar por moralistas, puritanas, ingênuas ou fora da realidade.

O álcool é o pilar que sustenta o financiamento do movimento e isso é uma realidade fechada (e não há outras opções para o presente). Temos pessoas presas e reprimidas, então não nos venham com romances puritanos, porque a realidade material nos obriga a seguir sustentando o ócio alienado, o alcoolismo e essas dinâmicas socializadoras como centrais no movimento. Duvidamos do caráter revolucionário ou transformador que esse tipo de festa pode ter, entre outras questões, por essa dinâmica alienante que ele gera e por estar em muitas ocasiões vazia de conteúdo político. Sim, todas temos práticas à margem da militância, inclusive contradições, mas nenhuma delas é levantada como bandeira, nenhuma é utilizada como referência de nosso movimento. Não por acaso o alcoolismo social é algo tão integrado, normalizado e enterrado por sua suposta necessidade.

Não somos contra as festas e o desfrutar, acreditamos que deve haver um espaço para tudo, e se nossa finalidade é a de unir celebrações com nossas reivindicações, também entendemos que em certas ocasiões não poderemos fazer isso, nesse caso dizemos não ao dinheiro arrecadado com a venda de álcool nessas festas. Não queremos que nossa luta se confunda com o ócio alienante e alienado. Nesse ponto nos perguntamos como poderíamos reivindicar os aspectos políticos de uma festa? Como fazê-la sem cair no consumo de álcool? Que tipo de ócio estamos fomentando nos movimentos sociais e organizações políticas com esse tipo de evento? Em que medida as festas alternativas podem seguir se autodenominando “alternativas”? Qual é a alternativa que oferecemos?

As “festas libertárias” pouco têm alternativas: não são alternativas de socialização, não são alternativas de consumo, não são alternativas de ócio e, logo, não representam a essência de nenhuma prática revolucionária, pelo contrário. Existem muitas coisas que revolucionam as pessoas: a cultura, a consciência, a prática revolucionária… Do outro lado, as drogas e o ócio alienado fazem dormir as consciências – essa é sua função, são mecanismos para ruir (e não para enfrentamento), são ferramentas de controle social que fomentam práticas que se chocam frontalmente com as ideias pelas quais lutamos, com as ideias pelas quais morremos.

A necessidade de dinheiro como desculpa para vender álcool constitui um argumento que cai por si mesmo, porque é mentira que não haja dinheiro — pelo menos há quando se trata de beber. Sem dúvida é mais fácil estender esse produto de autoconsumo, socializa-lo com uma etiqueta política para poder atrair certos setores e conseguir mais benefícios, do que trabalhar por solidariedade entre companheiras, entre as pessoas com quem lutamos e compartilhamos um projeto. Sem dúvida constitui uma via rápida, mas não é a única e a rechaçamos por isso, porque acreditamos na necessidade de construir redes de apoio livres de alcoolismo. Todas as dinâmicas coletivas e sociais são de difícil transformação, nelas deixamos tempo, saúde e a nossa pele durante anos. Sabemos que não há melhor forma de tomar consciência e transformação do que a prática, do que a propaganda pelo ato. É a prática e não as palavras, o que impulsiona as mudanças, e é por isso que decidimos não aceitar dinheiro de álcool para fazer frente a esse caso de repressão, não contribuindo assim para o fomento das dinâmicas coletivas que acreditamos prejudiciais para nosso movimento.”