Eu vi um demônio.
Muito diferente do que dizem, ele não era uma aparição: era um homem.
Ele deu um salto,
empunhou a faca e sorriu.
“Cê qué me zuar?”. Andou na direção dela.
Ela não era indefesa.
Carregava nos punhos uma madeira quase da sua altura que ela mesma arrancou do barraco, aos solavancos.
Como se exorciza os demônios dos homens?
“Ele é bicho”, disse ela pra nós, instantes depois, puxando a calça pra baixo.
Queria nos mostrar o roxo-preto que ele fez em suas pernas.
Naquele momento o roxo-preto estava em todas as pernas de todas as mulheres do viaduto. Em todas as pernas de todas as mulheres do mundo.
(de 2015)